NATUREZA MORTA
50 X 70 CM
CONSULTE DISPONIBILIDADE
"MINHAS MÃOS"
Olha para estas mãos
de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.
Mãos que jamais calçaram luvas.
Nunca para elas o brilho dos anéis.
Minha pequenina aliança.
Um dia o chamado heróico emocionante:
-Dei ouro para o bem de São Paulo.
Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderam
Roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.
Íntima das economia,
do arroz e do feijão
da sua casa.
Do tacho de cobre,
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro
e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras...
jamais ociosas.
Fecundas, imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar, ajudar,
unir e abençoar.
Mãos de semeador afeitas
à sementeira do trabalho.
Minhas mãos raízes,
procurando a terra.
Semeando sempre,
jamais para elas
os júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,
feridas na remoção de pedras e tropeços,
quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas
na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher
que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar,
Sózinha a procurar
O ângulo perdido, a pedra rejeitada
(Cora Coralina)