domingo, 11 de setembro de 2011

CORA CORALINA - "MINHAS MÃOS"



    
                                     NATUREZA MORTA
                                         50 X 70 CM
                                 CONSULTE DISPONIBILIDADE
                                                                   

   "MINHAS MÃOS"

Olha para estas mãos
de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.

Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.

Mãos que jamais calçaram luvas.
Nunca para elas o brilho dos anéis.
Minha pequenina aliança.
Um dia o chamado heróico emocionante:
-Dei ouro para o bem de São Paulo.

Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderam
Roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.

Íntima das economia,
do arroz e do feijão
da sua casa.
Do tacho de cobre,
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro
e faziam sabão.

Minhas mãos doceiras...
jamais ociosas.
Fecundas, imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar, ajudar,
unir e abençoar.

Mãos de semeador afeitas
à sementeira do trabalho.
Minhas mãos raízes,
procurando a terra.

Semeando sempre,
jamais para elas
os júbilos da colheita.

Mãos tenazes e obtusas,
feridas na remoção de pedras e tropeços,
quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas
na escava de construções inconclusas.

Mãos pequenas e curtas de mulher
que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar,
Sózinha a procurar
O  ângulo perdido, a pedra rejeitada

(Cora Coralina)






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